
A “Casa da Castrália” não é apenas uma casa, uma vivenda ou um palacete… é bem mais do que isso, pelo peso da sua história e do homem que a mandou construir! Está situada na Freguesia de Louredo da Serra no Concelho de Paredes. Fica aqui, parte do legado deste “Brasileiro de Torna – Viagem”, um benfeitor em terras do Vale do Sousa!
A poucos quilómetros de casa e fazendo parte do meu concelho, esta casa repleta de história e arte, há muito que despertou a minha curiosidade e a oportunidade para conhecê-la surgiu, pois umas das minhas “companheiras de viagem”, para além de Artista Plástica é também Agente Imobiliária e este belo, apesar de degradado, palacete foi posto à venda no mercado e eu tive o privilégio de o conhecer e de saber um pouco mais da sua história! Por isso, se tiver interesse na compra desta fabulosa vivenda, eu posso direcioná-lo até ao vendedor!

“Brasileiros de Torna – Viagem”
Entre as duas últimas décadas do século XIX e as duas primeiras do século XX, partiram de Portugal, incluindo de várias freguesias do Concelho de Paredes, inúmeros portugueses rumo ao Brasil em busca de uma vida melhor! E alguns deles regressaram às suas origens bem sucedidos financeiramente e intelectualmente. Conhecidos como “Brasileiros de Torna – Viagens”, traçados de um perfil filantrópico, decididos a dedicar parte das suas fortunas para melhorar e enriquecer as terras rurais onde nasceram e cresceram, regressaram a Portugal, com o intuito de investir em boas causas em prol do desenvolvimento em várias áreas, desde o apoio à instrução, construindo várias escolas e à solidariedade social, patrocinando as Misericórdias, igrejas, confrarias, asilos, hospitais e auxiliando os mais pobres!

Um destes homens, já esquecido por muitos, desconhecido por outros e certamente na memória de alguns, trouxe ao Concelho de Paredes e principalmente à sua freguesia, Louredo da Serra, o desenvolvimento social e cultural, deixando a sua marca na história do país!

Adriano Moreira de Castro, nasceu a 9 de Dezembro de 1858 no Lugar de Sobradelo na freguesia de Louredo e partiu para a cidade de Belém do Pará no Brasil com os seus 14 anos. Começou a trabalhar como aprendiz no comércio e anos mais tarde criou o seu império com a sua própria empresa Araújo, Castro e C.ª.

Regressou a Portugal por volta de 1901, comprou vários terrenos e num deles construiu a sua vivenda apalaçada, à qual deu o nome de “Castrália”! Os Brasileiros Torna – Viagens, transformavam as suas habitações em espaços de tertúlia e festas!

E a “Casa da Castrália” não foi excepção, tendo recebido inúmeros amigos, pessoas menos abastadas, republicanos, intelectuais, músicos e personalidades importantes tais como: o milionário brasileiro, Leónidas de Castro; o ministro Alfredo Magalhães; o Bispo do Porto e o compositor musical, Álvaro Teixeira Lopes que compôs uma valsa em honra do anfitrião denominando-a de “Castralia”!

Casa da Castrália
A “Castrália” foi construída no início do século XX e provavelmente concluída no ano de 1909, data indicada no portão de entrada principal. O palacete tem quatro pisos: a cave com um enorme lagar e vários espaços de apoio à agricultura; o rés do chão com os espaços mais incríveis, a começar pela Sala de Jantar, a Sala da Música, o Quarto do Bispo, a Sala da Geografia e uma pequena cozinha. Os outros pisos são compostos por mais quartos e salas, sem esquecer um belo e espaçoso miradouro com vistas para a pataca freguesia. Existe ainda uma escada em caracol de madeira que era usada pelos empregados, com acesso a todos os pisos, evitando assim, cruzarem-se com os patrões ou as visitas.


Existem também muitos objectos da época espalhados por toda a casa, incluindo um cofre, um piano, malas de viagem, livros, peças de decoração, mobiliário… enfim, em cada divisão existe sempre alguma coisa para nos surpreender!

Cofre e piano Livros e arcas
Escada em caracol e Escada da Casa Louças e mobília
Os espaços mais bem conservados, e na minha opinião, de maior beleza são: a Sala de Jantar, com murais pintados nas paredes com cenas que representam o Estado do Pará no Brasil, desde: a Fonte das Sereias; a Avenida Dezesseis de Novembro de Belém entre outros e os tectos em estuque com figuras em alto relevo de animais ligados à caça e frutos exóticos e a Sala da Música com murais de figuras infantis tocando instrumentos musicais e no tecto, em estuque também e com figuras de instrumentos alusivos à música em alto relevo! Não esquecendo a beleza do chão que é feito de madeira importada do Brasil (pau-brasil e pau-cetim) com o monograma ao centro, AMC, sugerindo as iniciais do nome do proprietário, Adriano Moreira de Castro!
Cozinha
Os Brasileiros de Torna – Viagens deixaram as suas marcas pelo Concelho de Paredes, foram vários estes homens que zelaram pela evolução das suas terras e aqui deixo os exemplos que são mais conhecidos!
Em Baltar, a terra onde nasci e fui criada: Casas dos Pereiras; Casa de Ernesto Leão /Casa do Dr. Ferreira e Casa do Comendador Pereira Inácio
Em Cête: Villa Martins; Escola do Verdeal e Casa do Verdeal
Em Lordelo: Palacete dos Silvas Moreiras; Casa de Amaro Martins Ribeiro; Casa do Ribeiro e Casa do Zeferino Alves Lama
Em Astromil: Capela de Santa Margarida
Em Paredes: Palacete da Granja / Palacete do Visconde de Paredes
Em Louredo: Casa da Castrália; Casa do Gradil e Escola de Louredo
Depois de várias pesquisas sobre os “Brasileiros de Torna – Viagens”, as palavras do Tenente-Coronel José Ribeiro da Costa Júnior faziam e nos dias de hoje continuam a fazer todo o sentido: “…os brasileiros de torna-viagem são diferentes dos “novos ricos” que surgiram em Portugal, nos finais do século XIX, na medida em que se preocuparam em dotar as suas comunidades com infra-estruturas que empregnaram algum desenvolvimento, e não se limitaram a esbanjar o dinheiro angariado no Brasil…”
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Actualização: A Casa da Castrália foi vendida à Câmara Municipal de Paredes!(2/11/2021)